segunda-feira, 27 de outubro de 2008
E agora, José?
A propósito do aniversário da morte de José Cardoso Pires, apetece citar o poema de Drummond de Andrade:
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
……………………….
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
……………………..
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?
José Cardoso Pires nasceu em 1925 e faleceu a 26 de Outubro de 1998, fez agora dez anos. Foi um dos vultos maiores da Literatura Portuguesa, autor de, entre outras obras, «O Delfim» (1968), «Balada da Praia dos Cães» (1982, passado a filme pelo realizador de cinema José Fonseca e Costa), «Alexandra Alpha» (1987) e «De Profundis, Valsa Lenta» (1997), que retrata a sua experiência após ter sido vítima de um acidente vascular cerebral dois anos antes.
Crítico da política e meticuloso nas palavras, curiosamente, Cardoso Pires publicou também, em 1977, um ensaio com o título «E agora, José?».
Agora, só o corpo permanece ausente.